quarta-feira, 8 de junho de 2011

Produção de óleos essenciais eleva economia de municípios amazonenses

Por Henrique Xavier
Visão mais comercial sem abandonar o lado preservacionista faz do extrativismo amazonense de óleos essenciais a tônica do Estado para os próximos anos e exemplo para outras regiões

Desde que em 1921 o perfumista Ernest Beaux, a pedido da estilista francesa Coco Chanel, criou a essência “número 5”, a fragrância conquistou a mais completa adoração do mundo feminino, fazendo girar um mercado milionário no seu entorno. Nas mais elegantes perfumarias do Norte, a exemplo de outras regiões do país, frascos com 50 ml do Chanel 5, por exemplo, custam para lá de US$ 97 dólares, ou R$ 170 reais na cotação da última semana de agosto.
Às portas de completar 90 anos, a excêntrica fórmula do Chanel 5 traz entre seus 80 ingredientes o linalol natural, retirado a partir do concentrado oleoso resultante da extração do pau-rosa, árvore presente apenas na Amazônia brasileira e comercializado a peso de ouro no mercado perfumista. Isso literalmente falando, já que o preço de venda do fixador em razão do apelo ecológico fechou até a primeira metade do mês de agosto custando US$ FOB (Free On Board) 72, ou aproximadamente R$ 125,97 por 50 ml.
Mas se ilude quem acredita que apenas a essência do pau-rosa tem alcançado cifras relevantes na economia extrativista amazonense. Andiroba e copaíba são óleos que vêm batendo seguidamente recordes no preço de venda, sendo comercializados durante a última semana de agosto por US$ 27.62 cada 50 ml, ou R$ 48,33. Já o óleo de babaçu, outro item que vem avançando na cultura cooperativa local, tem sido comercializado a preços superiores a US$ 5.71 o litro no estágio atual de produção, ou aproximadamente R$ 10,20. Mas a valorização mais formidável ficou por conta do óleo de tucumã, que fechou a última semana de agosto custando US$ 33.66 ou R$ 58,93 cada 50 ml.
De olho nessas cotações e, após encerrar o ano passado com praticamente 3,70 toneladas de óleo essencial de andiroba, Manaquiri (a 60 km em linha reta de Manaus) vem mantendo seguidamente uma produção média mensal de 20,5 toneladas dessa matéria prima. Não bastasse isso, o município quer representar 45% do total de insumos fornecidos ao polo de cosméticos do Estado, a partir da promessa de coleta mensal de quase 280 sacas de cocos de babaçu para a indústria de essências.
Os dados divulgados pela Associação Amazonense dos Municípios a partir de levantamento feito junto a Coopfitos (Cooperativa Mista de Produtores e Beneficiadores de Fitoterápicos e Fitocosméticos de Manaquiri) apontam que esse volume dará um incremento na geração de renda a mais de 200 pessoas no quadro da agricultura familiar amazonense este ano. Além do óleo de andiroba e babaçu, o município vai disponibilizar para o mercado interno a matéria prima para cosméticos à base de tucumã (5,2 toneladas de óleo).

Produtos Diferentes
O diferencial da produção em Manaquiri é representado pelas ações do centro de mudas destinadas ao manejo florestal e ao projeto de implantação do núcleo de cosméticos avançado ainda no primeiro semestre deste ano, que também vão proporcionar renda aos filhos e mulheres dos extrativistas. “Esse volume de extração no município tem como carros chefes os óleos de babaçu e andiroba, que exigem manejo em áreas muito extensas, por isso passamos quase dois anos fortalecendo a idéia do cooperativismo junto à mão de obra local”, afirmou a gerente.
Sobre o rumo das exportações dos aromas de produtos sustentáveis, o presidente da Coopverde (Cooperativa Mista de Produtores de Produtos da Floresta e Óleos Essenciais da Amazônia), Abrahim Souza Samej, considerou que a construção da Casa de Extração, em meados de junho, facilitou um acréscimo de 10% a 15% na produção esperada no primeiro semestre, perto de 14 toneladas. O dirigente disse ainda que a aquisição de óleos essenciais pela fábrica francesa Ganz Chemical ao longo do ano passado (19,5 toneladas), apesar de reduzida em mais de 20% em relação a 2009, gerou à cooperativa perto de US$ 15.2 mil, sendo 70% provenientes da castanha da Amazônia e do cultivo da piprioca. “Queremos aumentar em pelo menos 5% a produção até o fim deste ano, aproveitando o clima quente da temporada. Temos condições para isso. O que emperra nossos projetos é a possibilidade já acenada pelo nosso principal comprador da super valorização do real frente ao dólar, gerando preços proibitivos à indústria”, revelou.
A meta nada ambiciosa dos produtores rurais do setor faz rescender o cheiro de bons negócios com óleos essenciais ou produtos derivados, que podem receber injeção de aproximadamente US$ 45 mil em financiamentos agrícolas até o fim do verão amazônico, em meados de novembro. A expectativa é de que a produção total das usinas do Manaquiri e Silves alcance as 216 toneladas de óleos, cujo destino será a composição de insumos para o crescente polo de biocosméticos.

Pau rosa, um caso à parte
O Brasil é hoje o único fornecedor mundial de óleo de pau rosa, o que fez a produção cair e os preços dispararem. Isto se deu, porque, do fim do século 20, quando o país chegou a fornecer 450 toneladas por ano, até os primeiros anos da década de 2000, momento em que a produção não alcançou 50 toneladas, as técnicas de manejo e proteção da árvore estão cada vez mais rígidas, segundo ponderou o sociólogo e especialista ambiental Roque Dias. “Para a produção do óleo, a árvore é derrubada e triturada, ao contrário do que ocorre com o látex da seringueira ou o óleo da copaíba. Para se extrair em média dez quilos de essência, é necessária uma tonelada de pau-rosa, cuja madeira é raramente usada para móveis e canoas”, explicou.
Dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) mostram que as nove usinas licenciadas no Amazonas juntas exportaram US$ FOB 1.8 milhão no ano passado. Os maiores compradores foram, respectivamente, EUA, França, Japão, Reino Unido e Alemanha. Nos dois primeiros meses deste ano, foram vendidas 3,2 toneladas, rendendo ao Amazonas US$ FOB 379 mil.
O manejo do pau-rosa interessa não apenas aos ambientalistas, mas também à indústria de perfumaria e cosméticos, vez que fórmulas de perfumes clássicos, como o Chanel N.º 5, seriam irremediavelmente perdidas. Em Manaus, uma pesquisa do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) já bastante avançada promete ajudar ambas as partes. Trata-se de extrair o linalol das folhas da árvore, sem a necessidade de derrubá-la. Com o selo de ‘ecologicamente correto’, o novo fixador de aromas deve chegar ao mercado já em 2011, ao preço de até US$ FOB 50. Com o aumento da oferta, entretanto, esse valor poderá cair.

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